Assim como Fernando Pessoa, eu achava todas as cartas de amor ridículas, não só as cartas, como todo o comportamento dos apaixonados.
No entanto, o ser humano divide-se em antes e depois de encontrar o grande amor de sua vida.
Alguns o encontram na adolescência, são aqueles casais que namoram desde o colégio e casam-se anos depois, com pouca ou nenhuma experiência com outras relações. Chegamos a criticar essas situações: “Que absurdo, casar com a primeira namorada”; “Que loucura casar tão jovem”; “Isso não dará certo, casar sem nunca ter “provado” (nós somos produtos?!) outra pessoa”… Eu não concordo com os argumentos, ao contrário, acredito que esses casais são os grandes sortudos, afinal, quando nós encontramos o nosso amor, desejamos que ele seja o primeiro, o único e o último.
Mas o destino brinca de quebra-cabeça, adora um jogo de gato e rato, faz da caminhada um labirinto tempestuoso, torna a jornada dura… Amar é prova de resistência, o vencedor é quem mais apanha e continua de pé, só os mais fortes e ousados permanecem no jogo! O acaso exige de nós coragem para amar, é aceitar os efeitos colaterais, sem garantias, não há aval nem fiança! O amor é nobre demais para presentear preguiçosos e covardes.
Imagina se abandonássemos o barco a cada traição? Se abdicássemos de nossos romances a cada decepção? O mundo já está tão triste com os últimos românticos, avalie se não existisse nenhum… Estamos gritando de boca fechada por empatia, “a geração dos mutilados, tanto por amar como por não amar”…
Em tempos de romances vazios, copos cheios, música de péssima qualidade e corações sufocados, só um grande encontro é capaz de nos resgatar de nossos fantasmas.
O amor é melhor que rivotril, só percebemos o seu poder tranquilizante quando sentimos que nossas angústias são pequenas dentro de um abraço. Reconhecemos essa sensação quando o toque e a respiração do outro nos apresenta a paz!
A beleza das histórias de amor é ser mal costurada e inacabada!
E vamos enxergando pelos olhos do outro novas chances, e acendendo a luz da esperança que estava apagada. O amor nos invade e nós explodimos para o mundo! E ele tem um forte efeito moralizador, queremos ser melhor…
O segredo? Amar primeiro a alma e depois morrer de tesão pelo corpo!
O mundo fica mais leve para os apaixonados, só os enamorados se conformam com todas as dores da vida, pois encontram um remédio ao final do dia, um abraço apertado e um sorriso cansado.
Mas nós só vamos compreender isso quando encontrarmos o nosso amor!! Até lá estaremos mais preocupados com fotos no espelho da academia, joguinhos de conquista e beijos nas baladas solitárias.
*“Crônicas da Bruna Breck” é um espaço no blog onde Bruna Breckenfeld fala de relacionamentos, política e situações corriqueiras que muitas vezes são tratadas com tabu, como sexo e traição, mas sempre de forma suave e sem agressões. Acompanhem aqui!