Nos embalos da nossa cultura patriarcal, mulheres belas e jovens fazem parte do patrimônio de homens bem-sucedidos. Não há a arte da conquista, todo o encanto que envolve um início de relação é estipulado friamente por um contrato tácito.
Os votos de fidelidade e amor eterno são substituídos por votos de submissão e regras de conduta. Nesses relacionamentos de conveniência, trabalha-se com uma via de mão dupla: as mulheres devem manter-se belas, omissas, surdas e mudas, numa espécie de objetificação e petrificação imposta, já os homens, se a conta corrente continua alta, não importa que nada fique baixo ou mole. É uma troca de favores comum na sociedade, muitos estampam as capas de jornais e revistas e nós aplaudimos ao circo dos horrores.
Na atual crise de valores, questiona-se o elemento legitimador destas uniões, se for por amor, vale tudo! Não vejo com estranheza garotas apaixonadas por homens com idade de serem seus pais ou avôs, quando elas têm gosto requintado por cultura e saber, e esses senhores as embriagam com arte. Ou mulheres mais velhas que curtem a virilidade e o jeito aventureiro e irresponsável de alguns garotões. Não existe o modelo de casal ideal, de amor perfeito ou padrão afetivo, a primeira regra do amor é justamente não ter regras.
O que causa assombro é assistir pessoas que vendem a alma, não ao Diabo (seria menos sofisticado e mais rock roll), como Fausto, tão bem retrato por Goethe. Vender a felicidade para outro é prever o desastre de um futuro infeliz, pois a conta com a alma é cobrada em vida.
A mordaça do Século XXI é o dinheiro e o objeto de luxo de muitas mulheres, com potencial incrível para escrevem suas histórias livremente, é uma Gaiola de Ouro.
Talvez o dinheiro seja mesmo a ferramenta mais poderosa nos dias atuais, capaz de desmoronar Poderes e hipnotizar pessoas. Elas apresentam seu preço, os homens as compram e a soma desse pesadelo é a fatalidade de uma história finalizada com traição, Chanel, violência, Paris, lágrimas e Champanhe.
Quem vive nesse conto de fadas ao avesso não deve se surpreender quando términos ocorrem, é simples, acabou o patrimônio do provedor: “Adeus”, “você não me serve mais”, é fácil entender, nada que compramos tem a força para ser perene, só amores verdadeiros resistem as oscilações da economia e da vida.
É, eu sei, você tem razão, ela não é só bonitinha, ela é linda, mas já dizia o filósofo pós-moderno Compadre Washington: “Ordináaaaaaaria”.
*“Crônicas da Bruna Breck” é um espaço no blog onde Bruna Breckenfield fala de relacionamentos, política e situações corriqueiras que muitas vezes são tratadas com tabu, como sexo e traição, mas sempre de forma suave e sem agressões. Acompanhem aqui!